Fui ao Miró Gastronomia e saí incomodado com algumas coisas. Entre elas, a páprica. Vou tentar explicar.
Entre as muitas características de um bom restaurante está um bom conceito. Você precisa saber quem é para entregar algo que faça sentido.
Um restaurante de comida mexicana, um restaurante vegetariano ou até mesmo um rodízio japonês seão bons exemplos. No caso do rodízio, o conceito é ruim (quantidade, não qualidade), mas é um conceito.
Quando me sentei para escrever sobre o Miró, encontrei esta descrição na internet: “um manifesto artístico para levar os clientes aos mais diversos lugares em uma só garfada”.
Huh?
Aí a ficha caiu. A páprica!
Veja, o aspecto visual de um prato é importante a ponto de impactar no sabor. Comer é uma experiência sensorial. Isso não quer dizer que você deva colocar ingredientes aleatórios em um prato só porque vai ficar bonito.
Vou mostrar.


O tartar de atum (R$ 69) tem castanhas que dominam completamente o sabor do atum. E o molho de shoyu cítrico é uma variação do ponzu com azeite e limão com gosto industrializado. Nada faz sentido, incluindo a borrifada desnecessária de páprica.


Os bang bang tacos (R$ 57) trazem camarões esturricados em empanamento duro e doce. Não sabia se estava comendo um tempura, um coquetel de camarão ou uma sobremesa.
E lá estava, de novo, a páprica.


As croquetas de jamón (R$ 38) não tem sequer aroma de jamón. É uma massa com farinha e ovos.
E quem diria, páprica.
Eu entendi. A páprica está ali para aproximar os pratos de uma pintura. Talvez do próprio Miró?
Que desnecessário.
Os erros também são encontrados nos pratos principais, mesmo que sem a páprica.


Comi um espaguete carbonara (R$ 68) com sabor defumado bastante pronunciado em um prato que deveria levar pancetta. Não ajudou a massa ter se solidificado após a terceira garfada.


O beef wellington (R$ 104) era puro sal e virou uma maçaroca terrível depois da primeira garfada, quando os cogumelos molengas se misturaram com o purê e o glace.
De verdade, nada funciona. Além de falhar na concepção e na execução dos pratos, o Miró também erra no aspecto visual.
É um conceito sem pé nem cabeça traduzido em pratos ruins.
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